Por ocasião de mais um aniversário do início da imprensa em Cabo-Verde, com o lançamento do Boletim Oficial do Governo de Cabo-Verde em 1842, que naquela altura abrangia a Guiné, o Instituto do Arquivo Nacional de Cabo Verde (IANCV) e o Grupo Internacional de Estudos da Imprensa Periódica Colonial do Império Português (GIEIPC-IP) promovem um seminário (presencial e online) dedicado ao tema Arquivo e Memória da Imprensa Cabo-Verdiana e Africana, enquanto espaço dinâmico de encontro e rutura das diversas visões de poder, de imposição e resistência. Aplicando o conceito de arquivo à constituição física e virtual de coleções de imprensa, temos um arquivo que permite uma abordagem colaborativa porque interdisciplinar, abrindo da colonialidade para a pós-colonialidade, e para as transformações epistémicas que as vivências vão trazendo quer como realidades, quer como possibilidades. Colaborativa, ainda, porque interage com a sociedade civil enquanto legado, património e memória.
Esta perspetiva problematizadora não é uma contra perspetiva no sentido dicotómico do termo, mas antes implica a complexidade de formas plurais de experimentar, conhecer e raciocinar num mundo pós-colonial. As publicações periódicas, vistas como fonte e arquivo, mas também como matéria de estudo, ajudam-nos na compreensão dos textos produzidos nesse suporte. Enquanto objeto de apropriações várias, estas conduzem a atribuições de significados diversos, refletidos nas decisões de publicação, nas intervenções exteriores e nos vários tipos de mediação possíveis. Enquanto matéria de estudo em si, do jornalismo e de jornalistas, dos escritores, políticos, intelectuais e artistas que deram formato aos periódicos coloniais na diversidade das suas tipologias e intencionalidades, a imprensa revela redes culturais e políticas e de cruzamento das ideias que foram definindo o conceito de arquivo. Daí nasce uma nova compreensão da dimensão colonial que, através do levantamento dos agentes como sujeitos culturais, põe a descoberto a esfera pública de poderes e resistências que se manifestavam, e são descortináveis enquanto discurso, pensamento e ação. Com este Seminário pretende-se incentivar os estudos dedicados à imprensa colonial e pós-colonial decorrente da realidade do império português, com particular incidência na imprensa cabo-verdiana e africana, bem como à ideia de imprensa periódica como arquivo de dinâmicas políticas e culturais, na pluralidade de perspetivas que contribuíram para a história intelectual contemporânea. A possibilidade de aprofundamento de sentidos depende da consistência e democraticidade de olhares e práticas. Serão bem-vindos contributos sobre a imprensa periódica colonial publicada nestes lugares, bem como sobre a imprensa que, por motivações e condicionalismos vários, foi publicada fora do circuito imperial português. São exemplo dessas publicações, revistas e jornais estudantis publicados em outros centros metropolitanos e os periódicos anticoloniais de exílio, que não raramente congregavam intelectuais de origem diversa.
Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito dos projetos UIDB/00509/2020 e UIDP/04666/2020